domingo, 5 de maio de 2013

Palmas

Comecei a dirigir há pouco tempo, e desde então tenho percebido continuamente como somos mal educados, egoístas, e - na verdade- muito idiotas. Tenho a leiga hipótese de que as pessoas conferem ao trânsito a importância de uma competição, quero dizer, eu até poderia deixar aquele cara passar (perderia o que 15 segundos?), mas não deixo. Não porque se o fizer estarei mostrando fraqueza. Algo do gênero. 

E isso se repete.

Vi um casos esses dias na TV e passei um tempo me perguntando se a nossa estupidez realmente já tinha chegado a tal ponto. A resposta, infelizmente, não foi nada reconfortante. Dois homens adultos e , aparentemente, dentro de suas faculdades mentais discutem por - basicamente- uma pizza. Uma arma e duas filhas, duas meninas tentando proteger o pai. Duas garotas tentavam preservar algo muito mais importante que uma discussão fútil, a vida. Uma delas foi atingida na cabeça e está em estado grave no hospital. Grandes machos esses homens, fizeram valer toda sua bravura, toda sua honra. Por favor, vamos aplaudir de pé a necessidade de enfiar a sua verdade goela abaixo, a falta de bom senso e o orgulho que não pode ficar ferido (e não pode, de jeito nenhum, ser reparado com civilidade). [http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/menina-de-11-anos-leva-tiro-na-cabeca-para-proteger-o-pai]

Outra coisa que está em pauta no momento é a badalada maioridade penal. Protestos, revoltas, clemência por justiça, etc. Que lindo, que bravo, que meigo. Faço questão de declarar de imediato toda a minha parcialidade, neste momento, sou absolutamente contra a redução da maioridade penal, e entendo aliás, que os outros tópicos mencionados neste post estão intimamente relacionados. Entendo (e antes respeito as diversas opiniões) que a questão não é a idade de punir, é a vontade de punir. Colhendo um pouco de Foucault, creio que a imensa maioria desses justiceiros não estão nem aí para a questão da segurança pública, o que eles querem é a vingança social de uma maneira irracional, fria e inútil. Ou, sendo mais específica, querem é que os moleques se ferrem. E sofram até aprenderem a lição. Peço mais uma salva de palmas para os revolucionários facebookeanos. Palmas, palmas e mais palmas. Para a utopia de que alguém vai aprender algo no nosso inescrupuloso sistema penitenciário, para a maldade de -propositalmente- pensar no efeito e não na causa, por não olhar para o lado.  Novamente, é a minha humilde, simplória e pouco elaborada visão. 

Enfim, queria dividir essa reflexão. Será que precisamos mesmo responder com violência e brutalidade? Será que somos incapazes de manter um nível decente de conversa? É assim que termina a humanidade então?  Pois pensemos só mais um pouquinho, vamos respirar fundo, vamos esperar dois segundos antes de falar e não vamos nos supervalorizar a tal ponto que fiquemos incapacitados de girar numa órbita diferente da do nosso próprio umbigo. 

É isso por hoje.

2 comentários:

  1. Olá!
    Seu post fez uma reflexão muito interessante acerca da intolerância. Gostaria de dizer que finalmente alguém analisou a discussão da maioridade penal com sinceridade e te dou os parabéns por isso. Não tenha medo de defender sua opinião, pois seu argumento me ajudou a ver a situação de uma maneira que na verdade eu já via, mas não tinha muita coragem de expor. A intolerância está acabando com o mundo, não falo isso apenas como uma jargão, mas é fato: as pessoas brigam por bobagem, não contam até 10, não respiram fundo e depois as consequências estão aí. Você colocou tudo isso de uma maneira espetacular, parabéns novamente!

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    1. Obrigada por comentar Maria Alice, e fico muito contente de você ter curtido o post. É realmente assustador em que ponto chegamos (e com isso uso a primeira pessoa do plural porque também sou parte desta sociedade). Disse bem, vamos contar até 10 ou até quanto for preciso para refletir mais. Bjs.

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