Levantou assustada. Perdeu-se dormindo e, acordando, viu que tinha se perdido demais. Tocou os pés no chão frio, a cabeça ainda rodava como consequência desse despertar abrupto, a brisa da manhã tocou seu rosto de maneira desagradável. Caminhou cambaleante até o banheiro, com as mãos em concha, jogou água fria na face cansada. Um dose a mais de despertar. Enxugou o rosto e olhou-se no espelho.
Olhou-se.
Ele nem olhou de verdade, ele nem lhe percebeu de verdade. Não descobriu nada, não perguntou, não quis nada mais. E ela estava pronta para dar respostas ou fazer mais perguntas. Manifestou-se, mandou fazer panfletos, pintou o muro da casa dele. Ele não viu, não viu. Então ela contratou um sistema de som para uma micareta, compôs músicas sobre ele. Ele estava com fones de ouvido no volume máximo. Um dia, cansada, ela escreveu um bilhete de apenas quatro palavras, bateu em sua porta e entregou-lhe o bilhete. Ele sorriu. Ela sorriu. Então ele fechou a porta, ela montou um acampamento garantindo que estaria lá quando a porta se abrisse de novo.
Chuvas, relâmpagos trovoadas.
Clima seco, tempestade de areia, insolação.
Ela permaneceu lá. Bravamente, lá.
Mas um dia, bem, um dia ele abriu a porta, desceu as escadas e saiu caminhando sem olhar para trás. Nesse dia, ela desmontou a barraca e pegou o elevador mais próximo com destino ao subsolo. A barraca está no armário junto com o ânimo para acampar de novo. Pode jurar que nunca mais, jamais, acampará novamente.
Balança a cabeça para enxergar o espelho de novo, era ela.
Prepara-se para sair, era ela.
* Dizem que jornalistas não revelam suas fontes, pois bem, blogueiras de meia tijela também não.